Cada dia da minha vida que me entranho na Gastronomia, mais apaixonado me sinto por esta arte. Quando tudo está incerto e os problemas parecem tomar conta, visto meu dolmã, meus sapatos confortáveis, meu avental, meu toque e é neste momento que me desnudo de tudo que está me trazendo desconforto e mergulho na cozinha experimental.
Começo afiando minhas facas e organizando mentalmente o meu dia. A cada passar da faca na pedra, amolo pensamentos e sentimentos, que por muitas vezes ficam ali esquecidos, tão cegos como a própria faca.
Buscando a perfeição na confecção do alimento que irei servir, também busco o meu próprio equilíbrio.
Claro que no bater das panelas, na hora do corre corre da cozinha, não há muito espaço para paz. É um caos harmônico. Uma correria contra o tempo que exige concentração, organização, paciência e qualquer mínimo detalhe conta. Como uma orquestra tem seu maestro, a cozinha tem o seu Chef. Ao invés de instrumentos musicais, panelas fumegantes, óleo escaldante; ao invés da batuta, facas, pinças e chairas.
Mas é neste espaço físico que eu me encontro com minha arte de criar novidades, de criar sabores, de criar cores, de criar aromas e de me recriar como pessoa.
E foi assim que nasceu este prato: Num destes momentos dentro da minha cozinha experimental, ao lado de minha esposa italiana e da minha introspecção portuguesa, misturei a pasta italiana com as ameijoas portuguesas e uma pitada de Brasil e o prato saiu. Convidamos os amigos, testadores dos pratos que faço antes de serem colocados ao publico, e um dêles me disse enquanto estavamos a mesa: “Senza Parole” (sem palavras). E assim nasceu o nome do prato em sua mais bela essência!
Espero que gostem!
Ingredientes
- ½ kg de spaghetti
- 1 kg de vôngoles (nas conchas e vivos)
- 2 xícaras de vinho branco seco
- 1 dose de uísque
- 1 limão siciliano
- 2 dentes de alho
- 2 colheres (sopa) de salsa picada
- 2 colheres (sopa) de cebola picada (pedaços finos e pequenos)
- 6 colheres (sopa) de azeite de oliva extra-virgem
- 2 tabletes de caldo de camarão
- Sal e pimenta vermelha seca a gosto (pode usar pimenta-do-reino moída na hora)
Modo de Preparo
- Coloque os vôngoles de molho em um recipiente que contenha muita água fria e bastante sal. Deixe-os de molho durante uma hora.
- Jogue fora a água, lave-os em água corrente, para que percam o sal e a areia que ainda continue entranhada nas conchas.
- Coloque-os novamente de molho em água com sal, por mais meia hora. Torne a lavar os vôngoles em água corrente. Jogue fora as conchas que estejam abertas e não se fechem quando tocadas. Faça a mesma coisa com as conchas quebradas ou pesadas demais – elas podem conter lama do mar.
- Aqueça uns dois litros de água e coloque os vôngoles para cozinhar rapidamente. O tempo que levam para abrir.
- Retire os vôngoles abertos (reserve a água do cozimento) e tempere-os com o suco de 1 limão siciliano, salsinha picada, sal, pimento e o vinho branco. Deixe na geladeira por 1 hora.
- Retire os vôngoles da geladeira, aqueça o azeite de oliva extra-virgem numa panela grande.
- Acrescente o alho e a cebola picados e cozinhe por um a dois minutos em fogo baixo, mexendo sempre. Adicione os vôngoles (com as conchas), a pimenta, a salsinha e o vinho branco. Aumente o fogo e deixe cozinhar por 2 minutos, com a panela tampada.
- Passado os dois minutos de cozimento, acrescente o vinho branco e o uísque e flambe tudo.
- Na mesma água que utilizamos para cozinhar os vôngoles, acrescentamos sal a gosto, os tablets de caldo de camarão e mais ½ litro de água. Deixe ferver e coloque o spaghetti para cozinhar. Retire-o quando estiver al dente.
- Escorra os spaghetti e misture-os ao molho. Leve tudo ao fogo alto, rapidamente, apenas para a massa incorporar o sabor e o aroma dos vôngoles.
- Sirva imediatamente, tendo o cuidado para que os vôngoles, sempre com as conchas, fiquem em cima dos spaghetti (descarte os que não abrirem).
Harmonização
Cepa Pura Fernão Pires
Uva: Fernão Pires
Safra: 2011
Produtor: Felipe Gomes Pereira – Herdeiros
País: Portugal
Região: Lisboa
Teor alcoólico: 13%
Temperatura de serviço: 100 a 120C
Sugestão de guarda: até 2018
Amadurecimento: Estágio sur lie e batonage por 3 meses. Fermentação em barricas de carvalho francês e americano
Visual: Coloração amarelo palha com tons esverdeadas. Límpido e transparente com boa quantidade de lágrimas e untuosidade.
Olfativo: Aromas de frutas maduras e especiarias. Leve toque de madeira
Gustativo: Untuoso e ainda assim fresco, com excelente estrutura. Acompanha bem a linha dos aromas. Final de boca médio e saboroso.
Harmonização: Com frutos do mar, peixes mais gordurosos ou carnes brancas grelhadas.
Casale del Giglio Viognier
Uva: Viognier
Safra: 2012
Produtor: Casale del Giglio
País: Itália
Região: Lazio - IGT
Teor alcoólico: 13%
Temperatura de serviço: 80 a 120C
Sugestão de guarda: até 2018
Amadurecimento: Estágio sur lie e batonage por 3 meses. Fermentação em tanques de inox.
Visual: Coloração amarelo palha brilhante com tons dourados. Límpido e transparente.
Olfativo: Aroma frutado com notas de pêssego e damasco que juntos produzem uma grande doçura aromática. Toques citrinos e de frutas exóticas. Um floral bem leve lembrando pétalas de rosas brancas e acácia
Gustativo: Paladar salgado e fresco com sensação de frutas semelhantes aos aromas. Perfeitamente equilibrado. Um bom corpo e um final de boca longo, fresco e com uma mineralidade bem persistente
Harmonização: Frutos dos mar, arroz, massas com molhos leves, carnes brancas e queijos de pasta mole.